Jeremias nos diz que Deus estabelecerá com a casa de Israel
e com a casa de Judá uma aliança nova. No NT temos a eterna aliança, chamada de
testamento. A herança que nos é trazida, o “novo acordo” é selado pela morte de
Deus – Cristo, Deus encarnado, dá a sua vida na cruz. A Nova Aliança é a
solidariedade de Deus. Sua morte é o ponto mais alto desta solidariedade.
Cristo, apesar de Filho de Deus, foi um homem que
experimentou a fragilidade e a debilidade dos homens. Sofreu, chorou, sentiu
angústia e medo diante da morte, como qualquer ser humano o faria. Por isso
Jesus é o sumo-sacerdote, capaz de compreender as fraquezas e as fragilidades
dos homens. A partir dessa compreensão, Ele será também capaz de dar-lhes
remédio. O Senhor partilhou as nossas dores, medos e incertezas. Ninguém está
sozinho diante da dor, do sofrimento. Cristo nos toma pela mão, sofre conosco,
entende de dor. Antes de se revoltar diante do sofrimento, lembremo-nos que
Cristo também sofreu.
Na Nova Aliança, a liberdade do homem-Deus assume a vontade
do Pai. Jesus orou com intensidade. A Carta aos Hebreus alude, provavelmente, à
oração de Jesus no Monte das Oliveiras, pouco antes de ser preso: “Pai,
afasta-me deste cálice, mas que não seja feita a minha vontade...” (cf. Mc
14,36). Ele foi atendido em sua prece, pois a sua oração não o eximiu da
vontade do Pai, de sua missão. Não aceitou a dor pela dor, não queria morrer,
mas aceitou a vontade de Deus. Pela oração conhecemos a vontade do Pai, não
simplesmente pedimos que se faça a nossa vontade, que muitas e muitas vezes é
egoísta.
A Nova aliança é a cruz de Cristo, abraçada por amor. Só o
amor como dom total é gerador de vida: “em verdade, em verdade vos digo: se o
grão de trigo caído na terra não morrer, permanece só; se morrer, produz muito
fruto”. Quem quiser gerar a vida, deve morrer. A vida é morte – eis o mistério
da Páscoa! É a doação da mãe que sofre pelos filhos, é “tempo perdido”, é vida
investida... Quantos são os exemplos de mortes que geram a vida para a
comunidade e para a sociedade! Quantos doam de seu tempo, de seu dinheiro, de
da renúncia de sua comodidade? Quantos foram mais longe, morrendo em nome de
Cristo – os mártires, como Oscar Romero. Quantos gastam a vida em nome do amor
aos pequenos como o fez Teresa de Calcutá.
Quem se ama a si mesmo e se fecha num egoísmo estéril, quem
se preocupa apenas com defender os seus interesses e perspectivas, perde a
oportunidade de chegar à vida verdadeira, à salvação. O apego egoísta à própria
vida levará ao medo de agir, à dificuldade em comprometer-se, ao silêncio
perante a injustiça.
É isso que deve acontecer na Páscoa – a nossa Páscoa. O
nosso morrer deve se transformar em vida. É por isso que em cada domingo temos
nova Páscoa, ou seja, a memória da salvação oferecida por Deus: o senhor se
oferece, dá a vida. Sua morte e ressurreição é o que celebramos. Este mistério
deve configurar toda a nossa vida. Que a Eucaristia seja a força renovadora de
nossa existência.