Já faz 39 anos que o mês de setembro os católicos celebram o mês da Bíblia. Para este ano estamos convidados a conhecer melhor o Livro de Jonas. Sua história é do nosso conhecimento desde criança, mas a mensagem que o autor do livro de Jonas nos apresenta e sempre atual. Somos convidados a evangelizar as cidades, que assustadoramente nos últimos anos cresceram e concentraram os seres humanos. Assim, Jonas será uma grande contribuição para que o entusiasmo da Igreja não esfrie.
Desde o Concílio Vaticano II, a Bíblia ocupou um espaço privilegiado na família, com os grupos de reflexão, os círculos bíblicos, a catequese que se tornou bíblica e nas pequenas comunidades dos bairros das cidades. A Igreja no Brasil que atua na pastoral das periferias das cidades desenvolveu uma prática de leitura e reflexão da Bíblia muito particular e que muito contribui para o sustento da fé dos grupos comunitários e da caminhada das pessoas. É uma forma muito rica e transformadora de viver a missão evangelizadora da Igreja que é a de servir a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada.
O Mês da Bíblia surgiu há 39 anos em Belo Horizonte e destacou-se a importância da leitura e do estudo das Sagradas Escrituras. Na verdade, o Mês da Bíblia, novidade para os católicos muito contribuiu para o desenvolvimento da Pastoral Bíblica e a compreensão mais profunda da Palavra de Deus nas paróquias e dioceses. Hoje, o estudo da Bíblia deixa de ser uma Pastoral isolada das outras, mas passa ser uma própria e verdadeira animação Bíblica em toda a vida pastoral dos grupos ativos e vem ser a forma mais adequada de acentuar a centralidade da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja.
Para este ano de 2010, o mês da Bíblia, propõe o estudo e a meditação do Livro de Jonas com destaque para a evangelização e a missão na cidade.
O mês da Bíblia esta ligado a temática da Campanha da Fraternidade deste ano, destaca o livro de Jonas para seu estudo e reforça a idéia da universalidade do amor de Deus, que reconhece o valor de todos, esse texto da Escritura nos faz refletir sobre a evangelização do mundo urbano. Assim, o conhecimento do profeta Jonas será uma grande contribuição para que o entusiasmo não esfrie e a Igreja possa continuar ampliando sua reflexão sobre a amplitude de sua missão.
Resumo da história de Jonas
A história de Jonas é muito conhecida de todos nós. Já ouvimos muitas vezes, que o personagem de destaque no estudo deste mês da Bíblia é enviado a Nínive, mas ele procura fugir, embarca em um navio para a cidade de Társis, um lugar distante, onde, se acreditava Javé não se encontrava. Mas o que Jonas queria era escapar do convite de Deus, para enfrentar sua realidade ir a Nínive a grande cidade. Diante desta reação, Javé provoca uma forte tempestade. No navio, em que Jonas viajava, para fugir de Deus, os marinheiros trabalham duramente para poderem sobreviver e evitar o náufrago na tempestade, mas Jonas, com medo de Deus, se esconde e dorme tranquilamente e profundamente no porão do navio. Sendo encontrado pelos marinheiros, o próprio Jonas, com medo, pede que seja jogado ao mar imaginando que iria aplacar a ira de Javé. Mas também pensava consigo mesmo afinal se morrer, não terei de assumir a ordem de Javé. Entretanto o improvável acontece, um grande peixe, por ordem da divindade engole-o e, após três dias, Jonas na barriga do grande peixe é vomitado na praia. Enquanto estava nas entranhas do peixe, Jonas rezava. Mas Deus não recua e novamente dá a Jonas a ordem de ir à cidade de Nínive. Depois de tanta insistência de Deus Jonas resolve obedecer. Jonas vai e anuncia a destruição de Nínive. Todos os habitantes se convertem: homens, mulheres, rei e animais. Deus se compadece, e Jonas fica indignado com a atitude misericordiosa de Javé. A história de Jonas é muito conhecida, e uma das cenas preferidas é a de Jonas engolido por um peixe e sua permanência por três dias e três noites, na barriga do peixe (Jn 2,1-2.11).
Do objetivo do mês da Bíblia:
De fato, a escolha do livro de Jonas para o estudo durante o mês de setembro tem por objetivo tirar os católicos do comodismo e do julgamento preconceituoso e os encaminhar para a evangelização da cidade.
Que o estudo e a meditação do livro de Jonas nos ajudem a vencer a tentação de fugir dos desafios da missão na cidade e nos tornem capazes de acolher a todas as pessoas sem acepção.
A mensagem de do Livro de Jonas
Na época do período da dominação persa em que vivia Neemias e Esdras (450-350 a.C.), os interesses principais, eram a reconstrução de Jerusalém, a restauração da Lei e das práticas rituais, que estavam esquecidos, a eliminação de influências estrangeiras com muitos casamentos mistos, bem como o uso de genealogias para gerarem direitos de pertença ao povo escolhido por Deus. O autor do livro de Jonas, que coloca o nome do livro ao seu personagem principal, ironiza o comportamento do judeu nacionalista e tem um olhar favorável aos estrangeiros. A resistência de Jonas, querendo sempre fugir representa os grupos que não aceitam que Javé seja misericordioso com os povos estrangeiros sejam eles os assírios, como Abdias, Joel, Neemias e Esdras.
No decreto do rei de Nínive, o texto faz um apelo à mudança radical de vida: “invocarão a Deus com vigor e se converterá cada qual de seu caminho perverso e da violência que está em suas mãos” (Jn 3,8). O apelo à conversão dos opressores não é a um Deus único, mas o abandono de qualquer forma de injustiça social.
Portanto, o livro de Jonas nos apresenta o perdão e a misericórdia de Deus para todas as pessoas, até para os piores inimigos do povo de Israel. A personagem Jonas passa ser símbolo do povo que não acredita na intervenção de Deus a seus inimigos. O autor do livro de Jonas acredita que o perdão e a ação de Deus não têm fronteiras. As pessoas que liam ou ouviam a narrativa de Jonas eram desafiadas a rever a compreensão de Deus. O livro de Jonas passa a ser usado contra uma visão reduzida de grupos de judeus que pensavam que eles eram o único povo abençoado por Deus, sem exceções. O texto vai além, apresenta um Deus que vê e se arrepende do mal. Um Deus que se manifesta sensível à vida do povo, como é apresentado Deus no Êxodo: “Eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores; pois eu conheço as angustias. Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel” (Ex 3,7-8a). Deus vê e age. É um Deus solidário e próximo, favorável a todas as pessoas que se convertem de sua má conduta e ações violentas.
Chave de Leitura do livro de Jonas:
No capítulo 4 do livro de Jonas, há um duplo questionamento a Jonas: “Tens, por acaso, motivo para te irar?”. “Está certo que te aborreças por causa da mamoneira?” (Jn 4,4.9). Aqui está a chave para a mensagem central do livro. Deus lança um apelo a Jonas para que ele reconheça o seu erro e que Deus está certo ao mostrar sua compaixão diante do comportamento dos assírios em Nínive.
O desafio final do livro de Jonas:
E o livro termina com a pergunta: “E eu não terei pena de Nínive?”. Esta questão foi um desafio para todos os ouvintes do tempo de Jonas. E continua em aberto, exigindo uma resposta de quem lê a história. Que a narrativa de Jonas possa trazer novas luzes para a nossa vida pessoal e dos nossos grupos de reflexão bíblica e comunidades. Superar preconceitos é um processo para a vida inteira, a cada dia somos desafiados. Que o Deus da ternura e da misericórdia, que o livro de Jonas nos apresenta, ajude-nos a percorrer este caminho novo.