Somos convidados a ser Igreja samaritana. Dois exemplos nos ajudam: a samaritana bebeu da água viva e sai para anunciar a cidade que havia encontrado o messias. Hoje, temos outro samaritano. Aquele que é capaz de se aproximar, compadecer-se, sair da montaria e colocar sobre ela quem está no chão, caído.
O ponto de partida do Evangelho de hoje é a resposta sobre uma pergunta simples dirigida a Jesus: “Quem é o meu próximo?” Para os judeus, próximos eram os da mesma raça. Próximo significa ser amigo, ser vizinho... Jesus mostra que devemos nos fazer próximos. Não é uma categoria de privilegiados, pois podemos nos tornar próximos (solidários) a todos.
Percebemos que Jesus escolheu o que é fundamental – o amor! Este é o verdadeiro cumprimento da lei: o amor misericordioso que está sob toda a lei. O jurista reconhece o amor na teoria, mas usa a lei para aliviar o comprometimento com a misericórdia. O sacerdote era o homem do Templo, dos sacrifícios, dos ofícios. O levita era um “sacerdote de segunda categoria”. Ambos não tinham tempo, pois estavam ocupadas com as “coisas santas”, com o Templo de pedra. Jesus mostra que os homens “mais santos” não cumprem a lei na sua profundidade. Já os desprezados infiéis (samaritanos) se tornam próximos. Para Jesus a justiça não está nos títulos estabelecidos, mas pela atitude misericordiosa. Trata-se de um exame de consciência para avaliarmos a nossa postura religiosa: O que é ser religioso? Ir a Igreja? Cumprir preceitos? Ou trata-se de uma mudança de mentalidade, de uma abertura que me leva a acolher o próximo?
No v. 33, o verbo grego é traduzido como "compadeceu-se, teve misericórdia, foi movido por piedade, por compaixão". Foi esta a atitude do samaritano. No Evangelho de Lucas, o autor usa esse verbo, além da passagem bom samaritano, aplicando-o a Jesus (cf. 7,13= teve compaixão da Viúva que levava o filho) e para o Pai do filho pródigo (cf. 15,20= compadeceu-se do filho que voltara), portanto é um verbo que caracteriza uma ação divina, de quem tem pura gratuidade em sua ação. Quando alguém se compadece do próximo, assemelha-se a Deus.
O gesto do samaritano foi de misericórdia. A palavra misericórdia significa ter o coração batendo junto com o coração dos míseros (= sentir o que eles sentem, sofrer com). Quando sofremos junto com os pobres e sofredores, vamos ao encontro dele. Um doente compreende um doente; nós que vemos de fora, não conseguimos entrar no mundo do sofrimento alheio. Não basta encorajar os outros com palavras prontas, é preciso entrar no seu mundo, mostrar que o nosso coração sente o sofrimento alheio.
A lei do amor não está longe de nós, mas está ao nosso alcance. Nós também podemos amar assim (1ª. Leitura). Também nós podemos ir ao encontro daquele que sofrem, daquele que está doente, daquele que precisa de um conselho, de um sorriso, de alimento, de afeto, de compreensão, de solidariedade... É no cotidiano da vida que somos bons samaritanos. Talvez o judeu caído esteja mais perto de nós do que possamos imaginar. Antes de procurá-lo em um hospital ou num asilo, talvez seja melhor procurá-lo na sua casa e no seu trabalho.
Jesus nos ensina a amar com a totalidade do nosso ser. Amar com o coração (no hebraico centro da escolha, vontade, inteligência, entendimento), amar com a alma (no hebraico, fôlego; ser, pessoa, gente; personalidade, individualidade; vida; alma, desejo, estado de ânimo, sentimento, vontade). Assim, devemos nos voltar a Deus, diz-nos o Deuteronômio (Dt 30,10), com o coração, a inteligência e alma (Dt 6,5; Lc 10,27).
A Eucaristia ó banquete dos próximos. Jesus se torna próximo de toda a humanidade, vem ao nosso encontro, morre por nós, ressuscita, faz-se pão. Aqui nós somos ungidos com o óleo que suaviza a ferida, aqui nós recebemos o vinho da vida que desinfeta ferida e nos dá a verdadeira vida. Só um Deus que se faz próximo pode comer junto em nossa mesa.
“O meu Reino ó quem vai compreender? Não se perde na pressa que tem sacerdote e levita que vão se cuidar... mas se mostra em quem não se contém, se aproxima e procura o melhor para o irmão agredido que viu no chão”.
(Homilia Enviada pelo Pe.Roberto)
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