REUNIÃO DO CONSELHO PERMANENTE DA CNBB
O trecho do evangelho agora proclamado, faz parte da sessão narrativa de Mateus, com o início do ciclo dos dez milagres. Os acontecimentos estão colocados de tal modo que formam uma introdução ao discurso missionário de Jesus que encerra essa parte do evangelho de Mateus.
O uso da palavra “lepra”, como há pouco ouvimos, pode causar estranheza pela carga negativa e pelo sentido discriminatório que a expressão carrega consigo. Mas, como sabemos, a palavra “lepra”, usada de forma imprecisa na Bíblia, indica doenças de pele, não bem especificadas. Entretanto, no contexto em que nos colocamos, o tipo de doença é irrelevante para o que concerne ao caráter miraculoso da cura narrada por Mateus.
“Eu quero, fica limpo” (Mt 8,3) disse Jesus estendendo a mão e tocando no doente. O evangelista retoma a palavra que o doente havia dirigido a Jesus: “Senhor, se queres, tu tens poder de me purificar! (Mt 8,2). O pedido do doente e a pronta resposta de Jesus colocam em evidência a fé do enfermo e o poder que tem o Senhor de curar. A ordem dada por Jesus de mostrar-se ao sacerdote e fazer a oferta prescrita por Moisés faz parte das determinações contidas no livro do Levítico (Lv 14, 2-9).
O milagre realizado por Jesus é sinal de sua missão libertadora. Remete-nos à cura e purificação que ele realiza em nós, especialmente pela graça sacramental. Pelo Batismo somos purificados, regenerados e libertados do pecado. Tornamo-nos nova criatura (2 Cor 5,17). Ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica: “Pelos sacramentos da iniciação cristã o ser humano recebe a vida nova de Cristo. Ora, esta vida nós a trazemos ‘em vasos de argila’ (2Cor 4,7). Agora, ela se encontra ‘escondida com Cristo em Deus (Cl 3,3). Estamos ainda em ‘nossa morada terrestre’ (2Cor 5,1), sujeitos ao sofrimento, à doença e à morte. Esta nova vida de filho de Deus pode se tornar debilitada e até perdida pelo pecado. O Senhor Jesus Cristo, médico de nossas almas e de nossos corpos, quis que sua Igreja continuasse, na força do Espírito Santo, sua obra de cura e de salvação” (cf. CIgC 1420 e 1421).
A cura do leproso nos leva a pensar na purificação que Cristo realiza em nós quando nos liberta da terrível lepra do pecado que é sempre uma ofensa a Deus, ruptura de comunhão com o Pai e com sua família que é a Igreja. Jesus instituiu o sacramento da Penitência para todos os que perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial. Este sacramento, como diz Tertuliano, é “a segunda tábua de salvação depois do naufrágio que, é a perda da graça”. Concedendo aos apóstolos seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor lhes dá também a autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja.
O Catecismo da Igreja Católica também nos ensina que a comunhão eucarística afasta-nos do pecado. “O Corpo de Cristo que recebemos na comunhão é ‘entregue por nós’, e o Sangue que bebemos é ‘derramado para remissão dos pecados. É por isso que a Eucaristia não pode unir-nos a Cristo sem purificar-nos ao mesmo tempo dos pecados cometidos e sem preservar-nos dos pecados futuros” (CIgC, 1393).
Diz-nos Santo Ambrósio: “Toda vez que o recebermos, anunciamos a morte do Senhor (1Cor 11,26). Se anunciamos a morte do Senhor, anunciamos a remissão dos pecados. Se toda vez que o seu Sangue é derramado, o é para a remissão dos pecados, devo recebê-los sempre, para que perdoe sempre os meus pecados” (in CIgC, p. 334).
Renovamos o pedido que fizemos na oração do dia: Que o Senhor nos dê, por toda a vida, a graça de amá-lo, pois ele nunca deixa de conduzir os que ele mesmo firma no seu amor.
Homilia de Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana e Presidente da CNBB, por ocasião da reunião do Conselho Permanente, em Brasília, aos 25 de junho de 2010.