“Princípio da Boa Nova de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1). Assim começa o Evangelho de Marcos. Declara-se logo no início que o texto é um evanguelion, ou seja, uma boa notícia. Quando esta mensagem chega aos ouvidos de homens e mulheres deve, sim, gerar amor, alegria, esperança... As instituições religiosas, quando não se deixam guiar pelo Espírito, anunciam uma má notícia, bem diferente do Evangelho de Jesus Cristo. É preciso que insistamos na positividade do Evangelho. Sua força é transformadora, não tem limites.
O profeta Isaías trouxe uma boa notícia ao povo que estava prestes a ser libertado do cativeiro babilônico: “Consolai o meu povo, consolai-o – diz o vosso Deus...”. Quando muitos não acreditavam na libertação, quando tantos estavam aprisionados pelo peso dos pecados e não encontravam saída, Isaías prepara um tempo novo. Que venha a consolação, que venha a paz, que se prepare o caminho para novos dias. Hoje, do mesmo, modo, diante de tantas escravidões, não precisamos ficar no exílio, pois o Senhor vem para nos trazer consolação.
A tônica de Isaías é a mesma do último e mais importante de todos os profetas – João Batista. Este homem apareceu no deserto, vestido de roupas de animais, alimentando-se de gafanhotos e mel. Certamente, João está muito longe do nosso conceito de marketing. Hoje, poucos o escutariam, poucos dariam crédito a ele. Seria pintado como louco, maltrapilho, pobre, feio... Pois foi este homem do deserto que gritou a voz da conversão: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estrada’” (Mc 1, 3).
O gesto simbólico de banhar-se nas águas é sinal de conversão. João Batista insiste que a chegada do Senhor depende de cada um de nós. É preciso que haja uma mudança radical da existência: mudança no modo de pensar e de agir.
A escolha do deserto e das roupas simples evocam que a conversão passa necessariamente pela pobreza e pelo despojamento de si mesmo. Não estaremos abertos para o Senhor que vem enquanto o “eu” falar mais forte, enquanto estivermos presos em nós mesmos. É preciso compreender que o sentido da vida vai muito além do consumismo capitalista, das ofertas do marketing, das luzes artificiais geradas neste tempo. Tempo este que é antes de tudo quietude, serenidade, meditação, alegria interior.
Aquele que vem é mais forte. Sua força se manifesta em sua vitória sobre os inimigos, sobre os adversários, sobre a morte e sobre o pecado. Aquele que vem não batiza com água, mas com o Espírito Santo. A conversão que se almeja, portanto, não é simples obra humana. Somente Deus pode realizar esta graça em nós: purifica-nos de nossos pecados, lava-nos, regenera-nos. É Deus que age na interioridade de nosso ser, que é tão íntimo em nossa intimidade, que nos guia e gera a vida nova como pronunciou Ezequiel (Ez 36,25-28).
Renovai hoje em vós este Espírito que gera vida. Preparai o caminho do Senhor!